Posts Tagged ‘António Adriano Pais da Rosa’

Na manhã do dia 29 de Julho de 1933, por obra e graça do Senhor a minha mui querida e saudosa mãe, Maria da Conceição Vieira, envolveu-me nos seus bracinhos de veludo pela primeira vez, no Rossio de Baixo, na Vila de Canas de Senhorim, sob o olhar terno e meigo de meu pai, Mário Pais da Rosa. Ao redor
sentia-se, no seio de toda a família, a alegria a transbordar, pelo nascimento de um novo rebento, o António Adriano Pais da Rosa. Era uma família de trabalhadores onde transpirava amor, honestidade e humanismo. Foi com base nesses princípios que cultivei para me aperfeiçoar e lançar neste mundo árido e materializado em que gravitamos à procura do tudo e do nada…
Mais tarde, por motivos profissionais do pai, estabelecemos residência em Lisboa. E aí, no meio de algumas necessidades materiais, não esquecer que estavamos a atravessar um período de insegurança e dificuldades impostas pelo período agitado e negativo criado pela 2ª. Guerra mundial, fomos, no decorrer dos anos, vencendo e ultrapassando todas as necessidades primárias para se sobreviver, graças ao dinamismo empreendedor e lutador da mãe, que tudo venceu na sua luta aberta para defesa e bem estar da sua família, sua fonte de inspiração.
Com o decorrer os anos, lá ia crescendo neste ninho sagrado de amor, aproveitando as férias para ir para Canas, onde residia a sua família. Meu coração transbordava de alegria quando encontrava o meu António, o Adriano, a Dores, a Otília a Natália, o João e todos os restantes primos. Sentia-me o maior e o mais feliz … Mas, como a felicidade não é eterna, da minha casa de Lisboa, vi partir para terras do Brasil tios e primos que, lá longe, iriam tentar dar novo rumo à sua vida, a vida de emigrante envolta de luta, de trabalho e amalgamada de sofrimento, de ânsias, dificuldades iniciais e amor.
Ao findar o liceu, matriculei-me no Instituto Superior Técnico onde tive o privilégio de conhecer novas mentalidades, novos estratos sociais. Quando estava no 2º. Ano de Engenharia Civil, este jovem, familiar de aventureiros e emigrantes, por influência de colegas naturais de Angola tentou partir para aquelas paragens
longínquas e sonhadoras. O mundo em que vivia ou gravitava era demasiadamente limitado para os seus sonhos. Surgiu-me uma possibilidade criada em Fevereiro de 1961, ligada ao periodo agitado que envolvia a nossa Pátria.
Não pensei duas vezes e, ei-lo a caminho de África, com uma mão cheia de nada. Seu coração ia partido, sangrava,pois deixava para trás seus pais, os grandes amores da sua vida, que só viria, em 1970, a ver para os acompanhar à sua última morada, ao Cemitério de Canas de Senhorim, num intervalo de tempo bem reduzido. Sofreram um duro golpe com a minha ida para Angola e mais duro golpe sofri com a sua perda que me iria traumatizar todo o resto da vida. Hoje, acredito que, o meu Deus como punição, me fez chorar e penar num sofrimento silencioso e desgastante até me tornar um cidadão quase perfeito do Mundo, já que me fez abraçar causas e, credos político-religiosos de diferentes seres que, como eu, erram por estas paragens do planeta, por onde tive o prazer de passar, viver e conviver. A todos eles estou profundamente agradecido já que conseguiram moldar a minha personalidade, de me tornarem um ser humano digno do seu nome e de sua família e um lutador assíduo e firme na defesa de oprimidos ou marginalizados. Quarenta e seis anos de África tornaram-me um ser racional e profundamente humanista pois soube sempre viver com integridade entre seres de cores, credos, línguas e comportamento diferentes, tendo delas rcebido tudo o que melhor me podiam ofertar. Hoje, em silêncio e recolhido oro por elas e pelo seu bem estar e de suas famílias.
Com a independência de Angola e enriquecido com a experiência adquirida e a espiritualidade recebida daquele povo tão querido, tornei-me então um homem mais livre, mais realizador e mais lutador , mas irreverente. Como tinha grandes conhecimentos de engenharia civil, adquiridos na Universidade de Luanda e na experiência recebida na colaboração com uma empresa construção de meu sogro, em Luanda, o futuro parecia-me sorrir e esperava-me de braços abertos, na África do Sul.
Nesse país belo e sonhador, depois de tudo perder, voltei de novo a lutar, partindo da estaca zero com vinte e cinco dolares que surripiei ao Banco de Angola, já que todas as minhas contas e do meu sogro tinham sido congeladas. Disso, jamais acusarei gente de Angola mas muitos e muitos outros que nada se identificaram com aquela terra e com o verdadeiro Portugal. A História um dia há-de ser narrada com base na verdade e no respeito pelos que vivem no silêncio.
Dias depois de ter entrado em Pretória e ao conversar com um engenheiro alemão de nome Link Meyer, ele me informou que estava a ser instalada uma companhia inglesa na cidade. Com o seu apoio, fui presente aos directores que logo aos primeiros contactos me ofereceram um lugar para o Gabinete de Desenho de máquinas industriais, onde estive 21 anos a trabalhar, tendo saido quando atingi o tempo de reforma. Ali fiz de tudo, desenhador, chefe de secção, chefia do gabinete,
dirigente do clube de futebol da companhia e o “Pai Natal” de serviço todos os anos ue ali trabalhei.
Para me distrair, adquiri uma agência de viagens, a Ruca Travel, no centro da cidade, no mesmo prédio do Consulado Português e liguei-me a uma empresa de conbilidade que actuava junto da comunidade madeirense.
Foram momentos difíceis que travei contra o tempo. Tive de me desdobrar para
poder atingir uma situação económica mais estável e, assim, proporcionar aos meus dois filhos um futuro mais risonho. Mas, um homem é grande e faz milagres, quando atrás de si tem, como base, uma esposa perfeita, um coração de leão que não verga pois só sabe lutar para proteger sua família. A ela, como esposa dedicada, mãe adorável e filha maravilhosa me ajoelho a seus pés e digo, do fundo da alma, obrigado Maria Tereza.

Com ela, criamos a secção da Cruz Vermelha em Pretória, dedicada ao apoio das populações, principalmente a portuguesa. Fui jornalista dum semanário de língua portuguesa em Joannesburg e estive durante muitos e muitos anos ligado ao concelho paroquial da Igreja de Santa Maria dos Portugueses, em Pretória, tendo colaborado na construção da obra que ali se erigiram para servir de exemplo às gerações vindouras e para recordar,para sempre, o esforço e entrega dos Senhores Padres Diamantino Faria e José Ferreira. Com este último visitei pobres, doentes no hospital, um deles o filho do Dr.Mário Soares e alguns presos nas cadeias,onde iamos orar por eles e dar-lhes duas palavras de reconforto, de alento.
A minha ligação ao semanário fez com que lentmente me apercebece da realidade mais profunda da política sul-africana que me iria absorver todos os poucos tempos livres na defesa da causa do mui ilustre estadista, NELSON MANDELA, grande HOMEM, grande SER HUMANO e GRANDE SALVADOR DA PÁTRIA, duma integridade moral, espiritual e social notável. Por isso e por ele hoje sinto prazer em ser um cidadão desconhecido daquela terra abençoada, bem conhecida, desde há centenas de anos, por Portugal e pelos seus filhos que sempre ali foram bem recebidos.
Em 1984, por um erro médico da Clínica de S.Teresa, em Pretória, fiquei em estado de coma. Hoje, acredito, não estou nada arrependido por ter vivido essa situação. Mais uma vez aprendi muito e mais me realizei como ser humano.
Já no fim do cair da folha, vencido, mas não convencido, já reformado voltei, como velho elefante solitário, às terras onde nasci, a Canas de Senhorim….
Como ser humano aprendi e ensinei muito através do meu percurso já bem longo. Por isso tinha direito e esconder-me, a viver uma vida de reflexão a escudar-me no silêncio, passando simplesmente a escrever prosa e poesia que irei deixar
como relíquia dum ser que tudo fez para ser perfeito. Se o não consegui a Deus e aos homens, meus irmãos, peço que me perdoem pois a intenção era boa e perfeita.
Chegado a Canas fui convidado por um familiar a ir tomar conta duma sua herdade, onde me esperavam cerca de quinhentas ovelhas. Como era belo o contacto directo com a natureza. Tudo ali era pureza e estupidamente belo e atrente. Falei com as árvores, acariciei arbustos e enchi-me de amores por aqueles animais que tudo oferecem e quase nada pedem em troca. Cinco anos mais tarde, depois de viver uma vida calma e diferente, entre aqueles animais tão queridos, tão dóceis com quem conversei e comunguei do seu mundo de harmonia e encanto, regressei ao Estoril, para me juntar à esposa e aos filhos e poder então dedicar-me por completo à escrita, tendo-me associado à APP (Associação Portuguesa de Poetas) de que hoje sou o vice-presidente, esperando que a juventude de Canas se associe para dar a conhecer ao mundo que muitos valores se erguem naquela vila, que foi berço sagrado de toda a minha família e que hei-de dignificar com obras e actos até que Deus me chame para me julgar, no Seu juízo final.

O poema dedicado a essa pomba que partiu mas que está bem perto de nós, nos nossos corações.
“RUI ARAÚJO”

“Solto, liberto, partiste
Desta vida sem a ser,
Algo que tu não previste
Antes de teu amanhecer…

Deixaste entre os amigos
Uma ponta de saudade
Pois não tinhas inimigos
Só cultivaste amizades…

Anjos e arcanjos irão
Receber-te no caminho;
Amigos t’ evocarão
Jamais estarás sozinho.,

No eterno resta em paz
Seguro do teu passado
mas, repara, estarás
Em nossas mentes guardado”…

AMIGO!…
Lá longe, bem lá longe…
Mas bem perto das nossas mentes…
Nessas metas perfumadas…
Lembra-te de nós…
Resta em paz,
Na paz eterna,
Na paz do teu, do meu…
de Nosso SENHOR!…

Prosa
ANTÓNIO ADRIANO PAIS DA ROSA
vice-presidente da A.P.P. (Associação Portuguesa de Poetas)